Pe. Manuel Eduardo Iglesias, sj
Ínhigo de Loyola nasceu em 1491, caçula de treze irmãos. Morou na corte dos Reis de Castela na cidade de Arévalo, dos quinze aos vinte e seis anos de idade. Foi ferido na perna direita durante a defesa da cidade de Pamplona, no dia 20 de maio de 1521. Por conta do ferimento ficou de repouso na casa paterna até sua partida em 1522 numa nova vida de peregrino. Neste período de convalescença aconteceu a sua conversão e mudança radical de vida, já que possuía uma fé tradicional sem formação religiosa e uma vida bastante desregrada.
Respondendo ao repetido pedido dos seus irmãos jesuítas, Inácio fez um relato da sua conversão ao seu secretário, o jesuíta português Padre Gonçalves da Câmara, a partir do dia 4 de gosto do ano 1553. O santo faleceu dia 31 de julho de 1556. Ele relembra que estando em recuperação das cirurgias da perna, pediu à sua cunhada algum livro ao seu gosto mundano. Ela só achou na casa dois livros: “A vida de Cristo”, do cartuxo Ludolfo de Saxônia (+ 1377) e a “Legenda áurea”, uma vida de Santos escrita pelo dominicano Jacobo de Varazze (+1298). Na falta de outros livros começou a lê-los e aos poucos foi se interessando. Ele conta que passava horas imaginando pensamentos de glória mundana e que retornaria como herói à sua vida secular. No entanto, aos poucos, foi alternando com outro tipo de pensamento: se imaginava seguindo uma vida parecida a dos santos e também vibrava com isso. Um dia notou esta diferença: percebeu que após os pensamentos de glória mundana ficava triste e vazio. Por sua vez, quando imaginava uma vida como a dos santos, quando parava de pensar, ficava alegre e com muita paz. Por que seria isso?
Inácio disse que foi a primeira vez na vida que teve uma experiência do discernimento dos espíritos que se movem dentro de nós. O Espírito de Deus e o espírito do Mal. Um dia o santo se tornaria um mestre no discernimento espiritual, característico da sua espiritualidade e presente nos EE.
Os dois livros foram para Inácio uma escola de vida cristã e se complementavam. A vida de Cristo pode ser vivida pelos seus discípulos em qualquer situação, época e cultura. Só recentemente tive acesso uma das últimas edições da “Vida de Cristo” que Inácio leu e contemplou. Eu pensava que, antes da existência da imprensa, este seria um livro de poucas páginas. Para meu espanto me deparei com um livro em dois volumes, somando ao todo umas 1.500 páginas com letras pequenas.
Outra coisa me chamou a atenção: dentro do contexto orante e contemplativo da vida de Jesus, o livro está enriquecido por uma série de dados e citações de textos dos Santos Padres da Igreja, de grandes teólogos e escritores e de exemplos provenientes da devoção popular. Tudo isso é oferecido em cada capítulo do livro, abordando cada qual uma passagem diferente do evangelho. O cabedal de conhecimentos bíblicos e teológicos contidos no livro forneceu a santo Inácio uma formação teológica que ela antes não tinha. E o mais importante, o santo teve a graça de fazer um estudo teológico não apenas doutrinal, mas “um estudo de joelhos”, em clima de oração. É o que os grandes Santos Padres e santos teólogos vivenciaram e uma das características que estará presente na espiritualidade inaciana. Mais a frente veremos “como contemplar Jesus”.
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