CONTEMPLAÇÕES INACIANAS (Nº 3): Como contemplar a vida de Jesus

Pe. Manuel Eduardo Iglesias, sj

Santo Inácio aprendeu a contemplar a vida de Jesus, “se exercitando” na leitura orante do livro “A vida de Cristo”. Desde o prólogo o autor, Ludolfo de Saxônia, conduz os seus leitores suavemente por passos concretos para contemplar, através de uma linguagem agradável.

No tópico nº 11 deste livro lemos: Se você quer tirar fruto destas coisas, afastando de si outros cuidados e inquietações, faz-te presente ao que diz ou faz Jesus Cristo como se o estivesse ouvindo com seus ouvidos e o visse com seus olhos. Neste modo de orar o leitor entra e participa da cena contemplada onde Jesus é o foco central e a imaginação assume um lugar importante. Algumas vezes também indica o lugar do fato, porque interessa muito saber, quando se escuta o evangelho, onde foi que isto ou aquilo ocorreu, em que lugar, como se conhecesse a Terra santa     (tópico nº 12). O fruto destas contemplações está em que olhemos Jesus nas suas obras bem como o modo como procede: quando está com seus discípulos ou com os pecadores; quando fala e prega; quando anda e quando está sentado; quando come ou serve; quando cura os enfermos ou faz outros milagres (tópico nº 13). Para melhor contemplar o rosto de Jesus ou toda a sua figura, suas obras e maneira de viver, foram inseridas algumas coisas que estão escritas a respeito: … foi de estatura elevada, de aspecto modesto e respeitável…. (tópico nº 14).

Inácio de Loyola foi tocado pela vida de Jesus e transmite esta experiência na dinâmica dos Exercícios espirituais, fazendo todo o possível para que o exercitante tenha uma experiência de Jesus parecida com a dele. Diferente da extensa obra de Ludolfo de Saxônia, Inácio escreve um livro com palavras medidas e sem pretender fazer dele uma obra literária, mas sim ofertar aos exercitantes um método claro e conciso. Ele orienta a quem dá os Exercícios para que seja breve na sua apresentação da matéria: deixe o Criador agir imediatamente com a criatura e a criatura com seu Criador e Senhor [EE15 – Anotação 15 do livro dos Exercícios Espirituais]. O que a pessoa descobre por si mesma aproveita mais do que receber mastigado.  Inácio acredita que o agente principal nos EE é o Espírito Santo.

Santo Inácio, logo no primeiro exercício da segunda semana dos Exercícios apresenta de forma prática e objetiva o modo de orar das contemplações: Contemplação da Encarnação [EE101-109). Começa com a oração preparatória de costume [EE101]. Seguem três preâmbulos: 1º: lembrar a história do que quero contemplar. Sempre pessoas! As Três pessoas divinas olhando o mundo cheio de gente; o anjo Gabriel e Nossa Senhora [EE102]. 2º: composição vendo o lugar: o mundo e tão diversas populações; a casa de Nossa Senhora em Nazaré da Galileia [EE103]. 3º: Pedir o que quero: conhecimento interno do Senhor que por mim se fez homem, para que mais o ame e siga [EE104]. Seguem depois três Pontos.

[EE106] 1º ponto: Ver as pessoas: as da face da terra em tanta diversidade; as Três Pessoas divinas olhando a face da terra com todas as pessoas; Nossa Senhora e o anjo. Refletir para tirar algum proveito do que é visto.

[EE107] 2º ponto: Ouvir o que falam: as pessoas sobre a face da terra; as Pessoas divinas: “façamos a redenção do gênero humano”; o anjo e Nossa Senhora. Refletir par tirar algum proveito de suas palras.

[EE108] 3º ponto: Observar o que fazem: sobre a face da terra; as Pessoas divinas; o anjo e Nossa Senhora. Refletir par tirar algum proveito.

[EE109] Um colóquio com as Três Pessoas divinas, ou com o Verbo eterno, feito carne, ou com a Mãe e Senhora nossa. Pedir, segundo aquilo que sentir em si, pra mais seguir e imitar a Nosso Senhor, recém feito carne. Dizer um Pai-nosso.

Este é o esquema do modo de orar que daqui para a frente iluminará os EE. Destaquemos a importância da imaginação, das imagens que tocam o exercitante, da aplicação dos sentidos da imaginação, da atenção às pessoas, especialmente a pessoa de Jesus. Após cada ponto, a frase “refletir para tirar algum proveito” reforça a importância de nunca separar a oração da vida cotidiana, sendo que o objetivo dos Exercícios Espirituais é a busca da vontade de Deus para inteiramente cumpri-la na vida real. Nunca esquecer a graça pedida: o conhecimento interno de Jesus para mais amá-lo e segui-lo, sendo toda oração uma comunicação consciente e direta com Deus. O colóquio final fecha o tempo do exercício que todo ele é um diálogo com aquele que nos ama.

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