Publicamos mais um artigo do leigo Kennedy Barros que fez conosco, em Itaici, os Exercícios de sete dias no início de março passado. O artigo reflete a sua experiência de leigo cristão nos tempos que vivemos.
Todos nós somos chamados por Deus à santidade. E precisamos responder a essa vocação. A questão é: é fácil ser santo? Seguramente não, somos humanos, quebradiços, cheios de defeitos e pecados, mas ainda assim é possível. Nenhum dos Santos chegaram à santidade sem renúncias, provações, perseguições e até mesmo sofrimentos. Santo Inácio de Loiola nos deixou como legado seus exercícios espirituais para nosso aprendizado, nos quais ele convoca cada um a levar a sério sua vida e condição de criatura e que se determine a ordená-la segundo o propósito com que Deus nosso Senhor nos chamou gratuitamente à existência. Sabemos também que, com os que amam a Deus, com os que Ele chamou segundo seu propósito, Ele coopera em tudo para o seu bem. Porque Deus os elegeu primeiro, predestinando-os desde então para que reproduzam os traços de seu Filho, de modo a que este fosse o maior de uma multidão de irmãos, e a estes que havia predestinado, os chamou; e a esses que chamou, os reabilitou; e a esses que reabilitou lhes comunicou sua glória (Rm 8,28-30).
O que buscamos em nossas vidas? A felicidade. Em regra consiste nisso. E o que nos torna felizes? Dinheiro, bom emprego, família bem composta, boas relações sociais, conhecimento (cultura)? Sem sombra de dúvidas tudo o que foi citado contribuem mesmo. Mas pergunto: basta? Não. Se assim fosse não existiriam pessoas com todas essas condições e ainda assim muito infelizes, já outras sem nada disso e muito felizes. Precisamos descobrir a razão de nossas vidas quer seja no âmbito conjugal, familiar, comunitário e profissional, posto isto, tá dito que a vida deve ter um sentido. Como encontrar?
A vida ganha sentido quando vivemos para Deus, pois só na graça divina alcançaremos o fim para qual fomos criados. Sua luz santa é forte como o sol, basta que sejamos expostos a ela para que nos queime. Quando vivemos para a família, São José é um grande exemplo daquele que viveu para Deus e para a sua família. Homem de pouquíssimas palavras, mas de muita ação, como no caso para a fuga para o Egito, iniciada imediatamente após um sonho. Ele tinha a virtude da prontidão: pressa em obedecer a Deus. Aqueles que viveram por suas famílias( e para elas) nunca se arrependeram disso, pois suas vidas ganharam sentido. Pena que muitos pais vejam suas famílias apenas sob o aspecto de obrigação, como um peso ou um fardo. Eles precisam tirar a trava do olho. Ganha sentido também quando vivo para mim mesmo, o evangelho de São João afirma que temos a dignidade de filhos de Deus, somos conhecidos e amados por ele mesmo. Isso, por si só, justifica o zelo que devo ter por ela( minha vida), a fuga das amizades perigosas, das ocasiões de pecado, o cuidado com a saúde e busca equilibrada do bem-estar. Cuidar da minha vida não configura egoísmo, mais uma posição anteposta para que eu possa cuidar do outro, como está escrito: ama o teu próximo como a ti mesmo. Ganha mais sentido ainda quando vivo para o meu próximo, a ciência já comprovou que a solidariedade ao próximo se traduz em bem-estar para aquele que é solidário. É um paradoxo, o amor à medida que se reparte aumenta. Então, nos ensina o evangelho: ama o teu próximo como a ti mesmo. Isso é aprendizado gradual, não algo que já encontramos pronto e acabado. O amor ao próximo deixa nossa vida cada vez mais saborosa e iluminada. A grande descoberta a ser revelada a cada um pelo Espírito Santo será quando conseguirmos ver que nosso próximo é mais que isso, é irmão.
Tenho que conhecer a mim mesmo e aprender a amar. Quem sou eu? O sentido da vida começa com me conhecer, meu interior. Quais os meus limites, fraquezas, defeitos e virtudes? Mudar a mim eu posso, os outros não. Posso trabalhar a mudança nos outros dando exemplo de vida honrada e cristã. Aqui cabe aquela máxima tão repetida: a palavra convence, o exemplo arrasta. Ou ainda aquela outra: procurei a Deus não o encontrei, procurei a mim mesmo também não, procurei o próximo e encontrei os três. É importante despertar para o sentimento de compaixão, lembrar-se da nossa transitoriedade, assim nascemos para o amor e aprendemos que aqui estamos de passagem, como costuma dizer o padre Tony nas suas pregações, “amar é uma decisão.” É preciso travar luta interior contra a indiferença, aspectos da vida cotidiana que levam ao egoísmo e falta de solidariedade, aprender lidar com o ter, o poder e o prazer, a busca por conhecimento, projeção social e material sem moderação leva o ser humano para longe de Deus. Temos ainda que aprender com os próprios erros, há um célebre pensamento que bem contextualiza o que estou falando, “ninguém pode voltar no tempo e fazer um novo começo, mas qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”
Como falei no início, os santos foram pessoas humanas com as mesmas fraquezas e limitações de todo mundo, diferença é que se determinaram e buscaram à santidade, sendo assim foram santificados em Cristo. Foram obedientes à vontade de Deus e chegaram à perfeição. Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos, exemplo disso é a eleição dos doze apóstolos, pessoas rudes, de poucas letras e cheios de fraquezas, mas que ao ouvirem a convocação de Jesus o seguiram na sua missão de implantação do Reino de Deus. Eis aí o nosso papel de leigo na igreja, na sociedade e no mundo, sermos sal da terra e luz do mundo, e sob a ação do Espírito Santo, embaixadores (como dizia São Paulo) de Cristo na continuação da missão de Pedro, Paulo e tantos outros na construção do Reino.
* por Kennedy Barros
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